Dia do Apicultor: safra de qualidade, mas preço deprimido
As exportações do mel produzido no Rio Grande do Sul, entre janeiro e abril deste ano, diminuíram 30,94% em comparação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados compilados pelo Ministério da Economia, no portal Comex Stat, os embarques do Estado, que é sétimo maior exportador do produto no Brasil, passaram de 672,2 toneladas para 464,2 toneladas. O recuo está quase dez pontos percentuais acima do registrado em nível nacional, de 21,39%. No primeiro quadrimestre no ano, o país exportou 9,2 mil toneladas de mel, ante 11,7 mil toneladas no mesmo intervalo de 2022.
O resultado que se apresenta neste Dia do Apicultor, comemorado hoje, dia 22, devem-se a mudanças no cenário global, que deprimiram os preços no mercado internacional e dificultaram o escoamento da safra brasileira. Uma delas foi a diminuição no consumo mundial de mel após o fim das restrições sanitárias decorrentes da pandemia de Covid-19. A outra está no aumento da oferta na Europa e nos Estados Unidos, que tiveram um inverno menos frio que o esperado. O mesmo ocorreu na Ucrânia e na Rússia, de onde, inclusive, esperava-se produção menor por conta da guerra, como explica o coordenador da Câmara Setorial da Apicultura da Secretaria da Agricultura (Seapi), Patric Luderitz.
“Mesmo com uma estiagem mais forte em alguns pontos, a produção de mel foi maior em alguns lugares que em outros. Então, na média, tivemos uma produção maior que a do ano passado”, analisa Luderitz. A preocupação dos apicultores gaúchos, afirma, são estoques altos e de altíssima qualidade. “A gente está com grande dificuldade. Estamos com mais de 95% do mel guardado. Terminei a colheita em janeiro e estou esperando comprador”, relata o presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs), Ademir Haettinger. que acabou colhendo, este ano, 40% menos que no ano passado devido à estia. Com 400 colmeias em produção de mel nativo orgânico em Bossoroca, o dirigente conta que totalizou rendimento de 20 quilos do produto por colmeia enquanto o obtido em condições normais está em 35 quilos/colmeia.
Segundo o agrônomo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aroni Sattler, as produções mais afetadas foram as de plantas nativas da primavera. Já as de outono tiveram boa produção. “O eucalipto tem um sistema radicular profundo. Então essa seca não afeta tanto quanto a vegetação nativa”, afirma Sattler. Outro fator que levou a vantagens foi o início das chuvas nesse período de outono, em que o eucalipto ainda está florescendo.
Para contornar as dificuldades em consequência dos baixos preços, Luderitz diz que é preciso criar políticas para aumentar o consumo interno. Afirma ainda que é preciso incentivar a produção de itens que utilizam mel na composição, como na indústria farmacêutica, e incluir o alimento na merenda escolar. “O mel é considerado remédio e as pessoas só comem quando estão doentes. É um superalimento e, se as pessoas comessem com mais frequência, evitariam o surgimento de doenças”, diz.
Fonte: Correio do Povo
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