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A Janela e o Espelho

Era uma manhã como tantas outras. O sol timidamente rompia o céu, tingindo o mundo de dourado, quando ela se aproximou da janela. Os olhos, ainda pesados pelo sono, fixaram-se no varal da vizinha. E, como de costume, um suspiro de reprovação escapou-lhe dos lábios.

— “Olha só aquelas roupas… Que desleixo!” — comentou, sacudindo a cabeça.
O marido, calmo como sempre, aproximou-se e, sem pressa, passou um dedo sobre o vidro da janela. A poeira acumulada grudava-se à sua pele. Ele então olhou para ela, com um sorriso pequeno, quase triste.

— “A sujeira que você vê, querida, está nos nossos vidros.”

Ela ficou em silêncio. A verdade daquelas palavras ecoou dentro dela como um sino batendo no fundo da alma. Quantas vezes, ao longo da vida, ela havia apontado falhas nos outros, sem perceber que a mancha estava em seus próprios olhos?

Assim somos nós, humanos. Carregamos dentro de nós um espelho torto, que distorce o mundo ao nosso redor. A inveja nos faz enxergar triunfos alheios como insultos. A ganância transforma o sucesso dos outros em uma ofensa pessoal. Criticamos, julgamos, apontamos dedos, sem perceber que, muitas vezes, o que nos incomoda no outro é apenas o reflexo daquilo que nos falta.

Queremos tanto, mas nem sempre queremos pagar o preço. Desejamos as coisas fáceis, as conquistas sem suor, a felicidade sem esforço. E, quando não alcançamos, culpamos o mundo, a sorte, os outros.

Mas a vida, em sua sabedoria silenciosa, sempre nos devolve o olhar. Se enxergamos sujeira onde não há, talvez seja hora de limpar nossa própria janela. Se o mundo parece escuro, talvez seja nossa luz que está se apagando.

Ela fechou os olhos por um instante, respirou fundo. Quando os abriu novamente, não olhou mais para o varal da vizinha. Em vez disso, pegou um pano, molhou na água limpa e começou a esfregar o vidro. Gotas escorriam, levando embora a poeira, revelando um mundo mais nítido, mais verdadeiro.

Talvez fosse hora de parar de julgar os outros e começar a limpar o próprio coração. Porque, no fim das contas, a vida não é sobre o que enxergamos lá fora, mas sobre o que carregamos aqui dentro.

Professor Dal Zotto.
Educar para Transformar!

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