Esgotamento profissional pode causar estresse e depressão, alerta psiquiatra
A autocobrança, demanda excessiva de tarefas, pressão e frustrações, muitas vezes, fazem parte do meio corporativo, sendo cada vez mais comum encontrar pessoas que já adoeceram por conta do estresse crônico no ambiente de trabalho. Dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que, entre 2014 e 2023, houve um aumento de 1000% nos benefícios liberados para trabalhadores diagnosticados com esgotamento profissional, conhecido também com síndrome de Burnout.
O Brasil lidera entre as nações como o país com a maior quantidade de pessoas ansiosas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), com 9,3% da população. O órgão ainda afirma que um em cada quatro brasileiros sofrerá com algum transtorno mental ao longo da vida.
Na Serra Gaúcha, os números também chamam a atenção. De acordo com a médica psiquiatra Dra. Verônica Jordani, somente nos últimos três anos, os atendimentos relacionados ao esgotamento profissional cresceram 20% no Complexo Jordani Mental Care, em Caxias do Sul.
A especialista explica que a doença está diretamente relacionada com o ambiente de trabalho e ao estresse crônico.
“Precisamos falar sobre o esgotamento profissional, conhecido também pelo termo síndrome de Burnout, que nada mais é que um estado de exaustão física, emocional e mental. Demandas excessivas, aliadas à falta de reconhecimento, horas prolongadas e a crescente insegurança sobre o futuro podem desencadear esse esgotamento. Aqueles que o experimentam relatam sentir-se completamente drenados e, em casos mais graves, acabam adoecendo”, conta.
Alguns sintomas clássicos do Burnout são o cansaço extremo e o distanciamento emocional do trabalho. Em casos avançados, pode ainda ocasionar dores físicas, como dor de cabeça frequente, fadiga e pressão alta. Dra. Verônica informa que o esgotamento é bastante comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
Ainda conforme a médica psiquiatra, a cultura de viver para o trabalho implica no comportamento dos profissionais, que, por sua vez, não conseguem reconhecer os limites.
“No Rio Grande do Sul, em especial na Serra Gaúcha, temos uma cultura muito forte do viver para o trabalho. Esse comportamento, muitas vezes incentivado, é um problema na nossa região, porque dificulta a percepção do profissional em relação aos seus limites. O esgotamento é uma condição difícil de enfrentar, especialmente em um ambiente que exige produtividade constante. É um ciclo desgastante, do qual muitos trabalhadores não conseguem escapar sozinhos”, salienta a Dra. Verônica.
Esgotamento pode evoluir para depressão
A coordenadora do núcleo de psicologia do Complexo Jordani Mental Care, Ana Luiza Castellan, aponta que um dos desafios do tratamento da pessoa que atingiu seu ápice de esgotamento é evitar que o quadro evolua para a depressão.
“Algumas estratégias que adotamos é a combinação do autoconhecimento do seu processo psicoterápico, onde conseguimos trabalhar de uma maneira mais saudável e assertiva. Olhamos para todos os cenários para combatermos o problema, a sua raiz e o fruto do esgotamento, para que ele não volte mais a acontecer. Em casos onde o paciente chega em um estágio muito avançado, realizamos o atendimento mútuo com acompanhamento psiquiátrico”, explica.
Rotina equilibrada para prevenção
Com o final de ano se aproximando, a correria e a pressão do dia a dia começam a tomar conta. Adotar uma rotina mais equilibrada, com intervalos regulares e atividades que promovam o bem-estar podem contribuir para uma mente saudável.
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“Exercícios físicos, terapia, meditação e hobbies podem fazer a diferença. E para que isso seja realmente efetivo, as empresas também precisam investir em práticas de saúde mental no trabalho, criando ambientes que favoreçam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal de seus colaboradores. Além disso, tenha alguém para conversar sobre os seus sentimentos, busque uma rede de apoio”, enfatiza Dra. Verônica Jordani, médica psiquiatra e fundadora do Complexo Jordani Mental Care.
Fonte: Correio do Povo