Poesia Mística
Vem, Te direi em segredo aonde leva esta dança.
Vê como as partículas do ar e os grãos de areia do deserto giram desnorteados.
Cada átomo feliz ou miserável, gira apaixonado em torno do sol.
Desde que chegaste ao mundo do ser, uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral; depois, te tornaste planta, e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem, com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo um punhado de pó, vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada, decerto hás de regressar como anjo.
Depois disso, terás terminado de vez com a terra, e tua estação há de ser o céu.
Não durmas, senta com teus pares. A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro. Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo, e reflete, como a mina de rubis,os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser, transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso por tua ignorância, carregaste teus trapos para um lado e para outro, agora fica aqui. Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo.
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh, dia, levanta! Os átomos dançam. As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança.
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim. E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça.
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim. Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor. Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo, tornei-me meu próprio inimigo.
Não temos nada além do amor. Não temos antes, princípio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
– Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me! À noite, pedi a um velho sábio que me contasse
todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
– Isto não se pode dizer, isto se aprende.
-Vem ao jardim na primavera, disseste.
– Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz. Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?
Fonte: Mevlana Jalaluddim Rumi