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A raiz e a flor

O que não expressamos permanece reprimido
Parece que quanto mais nos expressamos, quer dizer, quanto mais
colocamos para fora o que está em nosso interior, mais vivos estamos.
Quanto mais damos voz à nossa dor de viver, menos barreiras entre
nossa alma e o mundo.
Por outro lado, quanto mais nos reprimimos, quanto mais represamos,
e nos fechamos em nós mesmos, menores nos tornamos.
Quanto mais acumulamos em nosso coração e em nosso cotidiano, mais temos
de nos esforçar para sentir a vida diretamente.
Tanto que nossa vida não expressada pode se tornar um calo que carregamos e cuidamos, mas nunca removemos.
A vida pode, de fato, perder sua suavidade.
Erroneamente concluímos que ela está perdendo seu sentido,
quando somos nós que não estamos sentindo mais o sabor das emoções essenciais.
Por exemplo, para uma pessoa
que não percebe que está com catarata, é o mundo que parece escurecer, não sua vista.
Quantas vezes achamos o mundo menos estimulante, inconscientes de que nosso
coração está diminuído e sufocado por todas as coisas que permaneceram reprimidas? Confesso que, por muitas razões, sempre me senti invisível
em minha família e em certos grupos.
Inicialmente, o problema se originou por querer agradar a
todo custo uma mãe centralizadora.
Isso me levou a anos de mágoas e rejeições nunca reveladas, que formaram um
calo no meu coração. Sou e sempre fui uma pessoa muito aberta e sensível, mas,
além de certo ponto, meu íntimo não podia ser tocado.
Embora esse calo tenha começado a se desenvolver a partir do relacionamento
com minha mãe, isso afetou o modo como me relacionava com qualquer um.
Finalmente, percebi que o mundo não estava perdendo sua cor, mas eu é que estava apagando as cores das emoções.
Dizer isso agora tão calmamente não reflete como foi difícil,
longo e doloroso tomar consciência desse problema.
Ele veio à tona para mim gradualmente, à medida que passei a reconhecer
e dar voz à sensação de invisibilidade que carreguei por toda a vida.
Parece que a nossa autenticidade está ligada ao que é expresso e ao que é reprimido. Assim como as flores precisam de raízes saudáveis para florescer,
os sentimentos somente podem expressar sua beleza, quando estão cuidadosamente
enraizados em nós, rompendo o solo de algum modo e desabrochando.
É esse delicado e paradoxal pedacinho de chão entre a superfície e o fundo,
entre a flor e a raiz, entre o que é libertado e o que é contido,
que continuamente determina se estamos vivendo nossa vida, ou não.

Mark Nepo

 

Fonte: Mark Nepo

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